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ONS alerta que curtailment energético será dominante nos próximos anos

  • 22 ago 2025

Com o avanço acelerado da geração de energia por meio de fontes renováveis no Brasil (especialmente solar e eólica), o setor elétrico se depara com um novo desafio: o curtailment energético. Embora o termo ainda seja pouco conhecido fora do setor, seus impactos são cada vez mais visíveis para geradores, investidores e consumidores do mercado livre de energia.

O que é curtailment energético?

Curtailment é o termo usado para descrever o corte ou limitação da geração de energia, mesmo quando há plena disponibilidade do recurso (sol, vento ou água) e capacidade técnica da usina. No caso do curtailment energético, esse corte ocorre por excesso de geração em momentos em que a demanda está abaixo da oferta, o que é cada vez mais comum em horários diurnos, com alta produção solar.

 

Por que isso está acontecendo?

O Brasil vive uma grande expansão na geração renovável. A capacidade instalada de fontes intermitentes (eólicas e solares) cresce em ritmo acelerado, sem que a demanda acompanhe na mesma proporção. Esse descompasso estrutural, aliado à baixa controlabilidade da geração distribuída (GD), tem levado à necessidade de cortes frequentes — muitas vezes prejudicando os geradores centralizados que operam sob despacho do ONS.

Estudo recente do ONS projeta que, até 2029, o curtailment pode chegar a mais de 10% para a energia eólica e ultrapassar 20% para a solar fotovoltaica, mesmo com o avanço das obras de transmissão.

Os impactos econômicos e operacionais

O setor já acumula prejuízos estimados em mais de R$ 4 bilhões com curtailments em usinas renováveis. Esse passivo financeiro compromete a sustentabilidade dos empreendimentos, reduz o retorno sobre o investimento e eleva o risco regulatório — o que, por consequência, encarece o custo da energia para os consumidores.

Além disso, há um desequilíbrio: enquanto os geradores centralizados têm sua produção limitada para manter a segurança do sistema, a GD (geração distribuída), que já ultrapassa 40 GW no Brasil, não é despachada ou controlada pelo ONS, intensificando a sobreoferta em determinados momentos.

E o que isso tem a ver com o mercado livre?

No mercado livre de energia, empresas e consumidores negociam diretamente com geradores e comercializadoras, buscando previsibilidade de preços e sustentabilidade. No entanto, o curtailment energético coloca um ponto de interrogação sobre a garantia de entrega da energia contratada, principalmente em contratos baseados em fontes intermitentes.

Para quem atua no mercado livre, entender esse cenário é essencial para avaliar riscos, estruturar contratos mais robustos e tomar decisões estratégicas. O curtailment também afeta a liquidação na CCEE e pode influenciar os preços de curto prazo (PLD), impactando comercializadoras, geradores e consumidores.

Caminhos para a solução

Não existe uma solução única, mas o setor caminha para um conjunto de ações coordenadas:

  • Revisão regulatória: Aneel e MME estudam ajustes nas regras de conexão, controle e remuneração, incluindo propostas para tornar a GD mais responsiva e integrada ao sistema.
  • Aprimoramento técnico: Estudos indicam que sistemas especiais de proteção podem liberar até 800 MW adicionais de transmissão no Nordeste.
  • Modelagem de risco: O ONS tem incentivado geradores e investidores a incorporar o risco de curtailment em seus modelos de negócio.
  • Planejamento coordenado: A expansão da geração precisa estar sincronizada com o crescimento da demanda, do armazenamento e da flexibilidade operativa.

Conclusão

O curtailment energético é um reflexo direto da transição energética brasileira e um alerta sobre os limites do nosso sistema. Para o mercado livre de energia, representa um desafio técnico, econômico e regulatório, que exige atenção redobrada e planejamento estratégico. Ao mesmo tempo, é uma oportunidade para repensar o futuro do setor com mais integração, inteligência e equilíbrio.

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