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Eng.ª de Energia Sara Wirti comenta sobre o Cenário hidrológico e o acionamento das bandeiras tarifárias

  • Mercado
  • 9 out 2024

De abril de 2022 a junho de 2024 o Brasil vivenciou uma sequência de 2 anos e 2 meses de bandeira tarifária verde, ou seja, nenhum valor adicional nas tarifas de energia. A bandeira verde indica uma situação confortável de geração de energia elétrica no país, o que ocorre principalmente quando as condições climáticas estão favoráveis para a geração de energia nas usinas hidrelétricas. Isso porque a geração de energia a partir da água ainda é a principal fonte de energia do nosso país. Em 2023 a fonte hidrelétrica correspondeu a 66% do total de energia gerada no país, segundo dados do ONS (Operador Nacional do Sistema).

Graças ao Sistema Interligado Nacional (SIN) que conecta todas as regiões em um único sistema de transmissão, os preços de energia na região Sul estão diretamente relacionados com os preços e condições de geração do subsistema Sudeste/Centro-Oeste. Isso ocorre porque esse subsistema possui aproximadamente 70% da capacidade de armazenamento de água do SIN. Logo, se a situação hidrológica naquela região está favorável, reflete em um custo de geração de energia mais baixo para o país como um todo. O contrário também é válido. Esta regra pode ter suas exceções, principalmente com o aumento da geração eólica e solar em outras regiões do país nos últimos anos, que vem alterando esse cenário gradualmente.
Como pudemos acompanhar nas notícias a respeito de queimadas que causaram impactos nas mais diversas regiões do país, a região Sudeste/Centro-Oeste atingiu níveis históricos de seca em 2024. Isso refletiu em um aumento do custo de geração de energia no país e acionamento da bandeira tarifária amarela no mês de julho/24, a bandeira vermelha patamar 1 em agosto/24 e, mais recentemente, a bandeira vermelha patamar 2 em setembro/24.

A bandeira tarifária segue uma metodologia que determina seu acionamento com base em um indicador de risco hidrológico utilizado no setor, chamado de GSF, e no Preço de Liquidação das Diferenças (PLD). O PLD é utilizado para valorar de forma horária a energia elétrica que foi produzida, mas não foi contratada pelos agentes do mercado. Em momentos de escassez hídrica o PLD tende a aumentar, bem como os preços de compra e venda de energia no Ambiente de Contratação Livre (ACL).

Estratégias de contratação no Mercado Livre de Energia para mitigar os riscos

É importante ressaltar que, a partir do momento em que um consumidor de energia migra para o Ambiente de Contratação Livre, não há mais a incidência das bandeiras tarifárias, as quais são aplicadas somente no Ambiente de Contratação Regulado (ACR), ou Mercado Cativo. Além disso, o consumidor irá contratar sua própria energia no mercado livre, deixando de pagar pela compra de energia através da Tarifa de Energia (TE) para a distribuidora local. Ele permanecerá pagando apenas pelo uso da rede da distribuidora local, através da incidência da TUSD (Tarifa de Uso do Sistema de Distribuição).

Esse ambiente distinto de contratação exige um maior planejamento, mas está associado a economias de até 40% no custo total com energia elétrica, dependendo do momento de contratação e do perfil de consumo. Isso é possível pois o preço médio de compra de energia no ACL no longo prazo (para 3 ou 4 anos à frente, por exemplo) é menor do que a TE média das distribuidoras brasileiras.

Como explanado inicialmente, momentos de crise hídrica levam a um acionamento das bandeiras tarifárias no mercado cativo, mas também levam a um aumento do PLD, que é o preço de referência para a compra de energia no curto prazo no mercado livre. Portanto, a chave para garantir a economia com a migração para o mercado livre está em manter uma estratégia de contratação de longo prazo, buscando as melhoras “janelas” de contratação.
Para atingir economias de 20%, 30% ou até 40% no ACL, é necessário fechar a compra de energia nesse ambiente em momentos de preço baixo para períodos mais longos, protegendo o seu negócio das variações das bandeiras tarifárias e do PLD. Através de um contrato de longo prazo firmado, o preço da compra de energia estará garantido para os próximos anos, trazendo uma maior previsibilidade de custos. Essa segurança em relação ao momento adequado para contratação será muito maior contando com a assessoria de empresas e profissionais com experiência no mercado de energia.

Abertura do mercado e simplificação da compra de energia

Em janeiro de 2024 ocorreu a abertura do mercado livre para todos os consumidores conectados no Grupo A (tipicamente conectados na média e alta tensão), através da representação por agente varejista. Essa abertura deverá se estender para todas as unidades consumidoras do chamado Grupo B nos próximos anos (consumidores residenciais, rurais, comerciais e todos conectados na baixa tensão). Assim, o processo de compra de energia no mercado livre vem sendo simplificado pelos órgãos reguladores e pelo próprio mercado.
Outro efeito da abertura é o surgimento de produtos mais flexíveis e até mesmo produtos de desconto garantido, onde o consumidor já assegura um percentual de economia em relação ao custo do mercado cativo. Essa mudança que estamos acompanhando tende a beneficiar cada vez mais o consumidor brasileiro, simplificando o acesso ao mercado livre de energia, enquanto proporciona economia e opções sustentáveis nesse ambiente de contratação.

Autor: Sara Wirti, Orientadora de Gestão de Energia no Mercado Livre.

Matéria veiculada na GZH: https://gauchazh.clicrbs.com.br/passo-fundo/informe-comercial/2024/10/cenario-hidrologico-e-o-acionamento-das-bandeiras-tarifarias-cm1z9uru000420106lca88k8i.html

 

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